ANOITECER COM VAGA-LUMES

Acrílica sobre tela

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Desga(m)bamento
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-------------------------( Ao arquiteto Santiago Calatrava )
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Um pequeno marsupial ladino
de cauda preênsil
sul-americano oportunista
parasitado por dentro e por fora
onívoro
sucedido nas artes de revirar folhas
e trepar em muros e árvores
com suas patas abençoadas
por dedos oponíveis
e aquele rabo tão versátil quanto pretensioso
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Pois bem-
esse animal gracioso e
incompreendido
de cheiro forte
e uma história longínqua
------------com um bando de filhotes
------------grudado às tetas
------------dentro de uma bolsa inusitada
dependura-se agora
no alto daquela espécie de gradil
ousado e imponente
de uma branquíssima ponte
------------de Calatrava
nesta manhã de sol ardido
na mais catalã das Barcelonas
------------com traças por fora e por dentro
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E ninguém que passa pela ponte
nota o bicho
nesta situação morfética
com ares de malote extraviado
feito beata na zona
e, portanto, quem passa pela ponte
mal passa pela vida

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Para Edvard Munch
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( Para Alberto Pucheu )

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De novo, a ponte
Outra ponte
Bem mais pinguela tosca
descalavrada
na expressão
do grito
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Rota alazarada
pons inutilis que nada une

que, se não tão nórdica
carcomeriam-na
cupins e brocas
teredos
ácidos orgânicos

à maneira do verme
que devora a massa amorfa
entre as orelhas surdas
do espavorido gritador
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Pobre atormentado Munch
sentado, magro
em seu estúdio abarrotado de telas
angustiadas
a cavalgar um sobrenome
tão crocante quanto breve
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Edvard
esfrangalhou-se
num colapso em 1908

mas, resfolegado em seu “Mural ao Sol”
foi à forra nos raios sobre o fiorde de Kragero
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Seria ali
que os lemingues suicidam-se no mar ?

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