segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

DIGNIDADE

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Cape May Point

( Para Andréia Carvalho )


Olhos de quilha
na casca amotinada
das ondas

cantilena
                        bisada
no pas-de-deux dos naufragados
no limo


Há morangos na mesa
& flores por baixo
*
                        & uma velha
com mais sacolas
do que pode carregar
segue ofegante


Sim- longe vão as horas
para a mosca aprisionada
                        no escafandro-

                        seus olhos                       
                        seu corpo
não choraram como os nossos
chorarão


O vento / a areia
leitaram o vidro que ofusca
a manobra dos barcos

o barro / a moringa
suam betume
no chorume dos mortos

& o farol
não me diz muito


Eis onde o límulo
desova os seus segredos
*
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7 comentários:

Henrique Pimenta disse...

Muito, muito bom!

Parabéns!

Anônimo disse...

suas palavras...belíssimas!!Adorei

ANGELICA LINS disse...

Só alguém ancorado em si mesmo escreve algo assim.

Abraço meu.

Anônimo disse...

Chico, adoro a palavra "quilha"! E quem descreve "Olhos de quilha" tem em si esse dom de ver para além da casca das coisas. Tu desfolhas gentes, retiras palavras minerais, extrais versos vegetais, e pintas imagens como quem faz aquarela onde pingos queriam limo.

Gosto muito da tua poética!
E isto aumenta à proporção de cada verso que leio aqui, e desfolho ali, onde pousa o querido urubu!

Beijo pr'ocê.

Assis de Mello disse...

Amigos,
Obrigado pelos comentários. Esse retorno é fundamental pois alimenta e não engorda.
;-)

Chico

Kátia Torres disse...

Belíssimo texto!
Há um movimento mínimo, como se tudo passasse nos minutos de ponteiros de cidade pequena, talvez onde segredos de bordadeiras e limo de calçadas espreitam pela janela do escritor.

Abraços, Chico!
Parabéns!!

Anônimo disse...

Belo texto,adorei bjs.