terça-feira, 25 de novembro de 2008

GALOPE

*
*
*
*
*
*
A Infinitude a Parir
*

( Para Bianca Feijó & Inês Ramos )
*
*

Plena manhã
da estação das cores
*
revolvo o quintal num silêncio morno
*
------------num silêncio lento
*
------------do caminhar de um velho
------------de pijama
em busca de perceber as contrações
da infinitude a parir
*
*

Desde que enlouqueci
ganhei novos direitos
*
e um novo dialeto
*
: recito duma cartilha
que poucos saberão solfejar
*
*

Apareceram pulgões na roseira:
------------fêmea gera fêmea
------------que gera
------------fêmea
------------que gera fê-
------------mea
------------que...
*
*

------------Não há machos
*
A neta está no interior da filha
que sequer inda nasceu
e lá atrás
------------no futuro
celulazinhas idênticas à avó
aguardam num sonho profundo
*
*

Há previsão de chuva para hoje
Um cavalo de nuvem cavalga o vento
*
*

Na casca do limoeiro
uma varejeira verde
------------metálica
está prestes a tomar uma decisão
*
------------- coisa que desaprendi a fazer -
*
------------ela espera a boa nova da carniça
------------e seus olhos são mais belos do que deus

*
*
*

34 comentários:

Graça Pires disse...

Enlouquecer. Ter acesso a outra cartilha ou a um silêncio morno e
lento. Ver o avesso das coisas e ficar com os "olhos são mais belos do que deus"... Belo. Um beijo.

Anônimo disse...

Belo poema!
Gostei bastante do deu blog :)
Conheça o meu também:
www.larissapoeta.com/blog
Site: www.larissapoeta.com
Beijos :***

d'Angelo Rodrigues disse...

Vamos solfestejar sua cartilha, que nos faz enloucrescer, meu caro Chico. Cavalgalopar pelo céu independente das profecismas da metereologia ao som de sua dialetoada.

Sr do Vale disse...

Em minha capina cibernética,
rocei, rocei,
e na precisão do pouso
vim descançar aqui.
E brilhantemente vejo na sombra disso tudo
a morfologia das coisas simples
e
nesta imensidão de quase nadas, um deus metálico de cores que a cinerbéticologia imita
a espera da refeição.

Meu caro Chico, este poema atingiu-me, qual galope em nuvens de uma chuva distante.

Só um abraço, em dialetos de loucura, nós velhos pijamentos, encontrando rimas em pulgões femeas.

Fátima Campilho disse...

Deus espreita a vida.
Talvez não saiba recitar sua cartilha.
Tenho meus momentos de calmaria
Nessas horas, procuro o mar...
Abraços.

Luciano Fraga disse...

Passei por aqui, alto nível e rico conteúdo os seus textos, voltarei, parabéns, abraço.

Márcia Maia disse...

O último verso é um achado, mas esses, eu gostaria de ter escrito:

"Desde que enlouqueci
ganhei novos direitos
*
e um novo dialeto
*
: recito duma cartilha
que poucos saberão solfejar"

Poesia em estado puríssimo.

Um beijo grande daqui, Chico.

Bruna Assagra disse...

excelente! Passarei por auqi mais vezes.... tá e sem repelentes...

Barone disse...

A poesia é um ato solitário, fruto do que há dentro de nós. Nesta segunda-feira, um projeto simples pretende imprimir na solidão da poesia um sentimento de coletividade, de coisa feita ombro a ombro. Trata-se do projeto Poema Dia, um blog (http://poemadia.blogspot.com/) no qual cada dia do mês é adotado por um poeta ou mini-contista que, neste dia específico, posta um trabalho de sua autoria.

Nossa nau partiu nesta segunda-feira (1º de dezembro) com 15 tripulantes, outros embarcarão pelo longo caminho. Singraremos os mares bravios da literatura e da sensibilidade. Convido-os a compartilhar esta viagem conosco.

Adriana Godoy disse...

Belo poema, Assis, suave/forte. Coisa boa de se ler e de se sentir. Abraço. Adriana

Dona Sra. Urtigão disse...

E eu que não tenho nenhum dom artistico, pelo menos tenho a capacidade de apreciar.E gostei muito do que vi e li.

kelen disse...

uau
não sei por onde começar... parece obvio que pelo começo. Mas qual?tudo aqui é muito belo e reverbera ca dentro. As palavras (adoro-as)-mesmo que fujam, como agora - as cores, o cheiro (sim,este blog tem um cheiro boooommmmm). Observo que passeamos por lugares (virtuais) comuns e passeando cai aqui.
Voltarei sempre. Com certeza.
convido-te para um chá no meu http://ideianoar.blogspot.com/
beijo

Cristiana Fonseca disse...

Tens o poder das belas palavras , e o poder de sensibilidade poética.
Incrível tua sensibilidade e intimidade com as palavras.
Abraços,
Cris

Alice disse...

Meu querido Buda !... vc é o mestre das letras ...


bjus com saudades

Anônimo disse...

Um canto de esperança, amplo, tão
que, nele
pode-se encontrar todas as fontes
as indispensáveis
coragem, coragem e coragem

Deus lhe pague, Assis

Maria Dias disse...

Oi Chico...

Gostei do blog,das poesias e fotografias.Adorei as imagens num mesmo tom de por do sol.Recentemente vc visitou meu blog, então vim te conhecer...Voltarei para te ler mais e com mais tempo.

Beijinho

Maria Dias

. intemporal . disse...

"Desde que enlouqueci
ganhei novos direitos

e um novo dialeto"

que neste espaço, onde as palavras são o sussurro de vozes que falam juntas em tom brando, com a capacidade de mudar o m.u.n.d.o.

P
a
r
a
b
é
n
s

Assis de Mello

_______________Voltarei, sempre [!]

Beatriz disse...

Surpresa com a beleza de sua poesia e a graça e delicadeza de seus poemas. Além do estilo entre o romântico e o irônico aqui posso enlouquecer será? Ganharei novos direitos?
Parir infinitude nessa geração de femeas que se auto-reproduzem é muito interessante pra pensar. Incrível poema de um poeta que é biólogo e soube tão bem falar dessa infinitude assustadora.
Belíssimas imagens..

Beatriz disse...

Surpresa com a beleza de sua poesia e a graça e delicadeza de seus poemas. Além do estilo entre o romântico e o irônico aqui posso enlouquecer será? Ganharei novos direitos?
Parir infinitude nessa geração de femeas que se auto-reproduzem é muito interessante pra pensar. Incrível poema de um poeta que é biólogo e soube tão bem falar dessa infinitude assustadora.
Belíssimas imagens..

valéria tarelho disse...

que delícia!
agora que descobri o caminho, me dou direito ao delírio e ao deleite!

as coisas do chico estão nos meus "elos" (em ordem alfabética: assis de mello).

prazer, Chico! um beijo!

. intemporal . disse...

Assis de Mello

[chico]

Hoje, precisei de te vir ler mais um pouco e saborear a brisa da alma com que te acometes à vida!

É um prazer!

Sentido.

Deixo-te um abraço.

Barone disse...

Que poema lindo. Obrigado.

Gerusa Leal disse...

Caramba, Chico, tiro meu chapéu pros seus poemas. Degustei os cinco primeiros com a alma em suspenso. Como criança, vou guardar os doces e ir degustando a cada dia um pouco. Como blogueira iniciante, sinto-me premiada por sua visita e seu elogio. Como chegou ao meu blog?
Beijos

Gerusa Leal disse...

Beleza, Chico. Eu ainda não tinha visto a última Leva da Diversos e nem sabia qual texto/poema Leila tinha selecionado. Vamos nos lendo sim, com certeza. Bom fim de semana.

. intemporal . disse...

Reconhecidamente grato à presença que sob a forma de amizade encontro aqui, venho desejar um Santo Natal, que anseio renovado em essência há muito perdida entre os homens.

Porque o Natal é uma mensagem no tempo, que se quer in.tempo para sempre.

Boas Festas

BAR DO BARDO disse...

Não o conhecia. Começo. Sem meço. E já é um começo, né?
Gostei do poema.

Cristiana Fonseca disse...

Desejo te Boas Festas.
Abraços,
Cris

Mara faturi disse...

AIIIII querido Assis,

eu não tenho como parir comentário algum,porque estou feito aquele silêncio morno, o teu poema é tão belo, tão MARAVILHOSO que me paralisou*)
adoro voltar pra casa depois de visitar tudo aqui!!
grande bjo (tem poema novo no PER)

. intemporal . disse...

F
e
l
i
z

2
0
0
9

Onde a saúde seja o maior bem alcançado e porta aberta para a felicidade suprema.

Um abraço,

Paulo

f@ disse...

FELIZ ANO NOVO…
Beijinho infinito das nuvens

Kátia Torres disse...

Percebo, a cada poema seu que leio, mais e mais a aguda sensibilidade. Confesso uma inveja serena e uma alegria interna ...

Chico, adorocê!

Deslumbrada, beijo seus olhos.

Anônimo disse...

Há muito vc me encanta. Confesso que, por acaso, a doçura dos seus olhos azuis foi o que me chamou primeiro a atenção. De lá para cá, tenho "bisbilhotado" suas coisas, como fazem as crianças curiosas, mas movida pela admiração. Hoje, me rendo também à sua poesia. Não por conhecer ou dominar os recursos linguísticos ou poéticos; mas pelo puro prazer de "viajar" pelos seus versos.
Você é simplesmente brilhante.
Iza.

Delírios de Maria disse...

UM HOMEM E A REALIDADE

Certamente já vivi uma vida de alegria contigo
homem compacto
deliberadamente estabelecido em aparências(...)
incitado porém reafirmado-(...)-,
certamente já vivi uma vida de alegria contigo.

Passos largos
rápidos
olhar firme
se transforma em moldura
com detalhes minuciosos

Modelo singular
sem qualquer risco
Sem demonstrar nenhuma vontade de indultar-me
ou a si mesmo(...)
Vai embora sem nenhuma citação
Sem saber se possui o bem da terra
movimentos juntados em seu corpo
são filtrados em si mesmo
em linhas silenciosas...sem sentimentos
reais.

BELÍSSIMOS TEXTO, PARABÉNS

Anônimo disse...

Eu, a acompanhar aqui os passos num quintal, com os olhos de quem pede chuva na poesia para sanar sede de palavra na terra, encandeio-me com as imagens que constróis, e com tudo dentro delas.

Admirável tua escrita, poeta.

Um abraço.
.
.
.
Katyuscia