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Tempus Fugit
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1.
Um grande úbere
na abóbada do céu
e eu
a ordenhar as horas
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eu e minhas moscas
a ordenhar as horas
enquanto a noite muge
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Cada minuto
------------é um filamento
a jorrar
das glândulas da grande-mãe Perenidade
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Melhor nutrir-se
------------assim
quando os cometas passam
pela via branca da continuação
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como lascas de carvão
na água rasa
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2.
O gato
o sono das crianças
o sestro canto da coruja
------------são distintivos da noite
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assim como o doido
o bêbado, os depravados
------------e seus tenesmos
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e todos os joões e miguéis insones
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------------&
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as mulheres com botas
------------com estampa de onça
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[ No micélio dos fungos
um tic-tac de relógio ]
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3.
Foge o tempo
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------------Voa Cronos
- aquele que engoliu seus filhos
e apartou o céu da terra
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Voe também
a loucura de cada ser
e cada criatura
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pois é melhor nutrir-se
------------assim
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é melhor nutrir-se
------------assim
de alumbramentos superiores
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e haurir a vasta brisa
------------do sem-fim
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quando os olhos se arregalam
nos intervalos
------------de Hölderlin
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5 comentários:
Com um poema desses, o que é que eu vou falar? Merci, meu querido. Merci por espalhar beleza nessa manhã de domingo. Merci pelo carinho.
Um grande beijo daqui.
Da Via Láctea à lírica alemã, a sonoridade ímpar e o mosaico surpreendente e costumeiro do grande Chico, que deve ouvir em FM a canção de Hyperion e encontrar Saturno pelas ruas ostentando um Rolex no pulso.Batráquios me mordam se assim não for.
"nos intervalos de Hölderlin" gostamos das palavras que nos trazem este modo pessoalíssimo de falar das coisas do céu e da terra...
Um abraço.
Chico,
nós, realmente, só somos do tempo.
Gosto destes infinitos.
Obrigado.
Seus poemas primam pela forma, pela escolha do vocabulário, pela alma lírica do poeta. Seu blog é rico pela qualidade, pelo senso estético, pelas imagens. Parabéns. Abraço.
PS: Obrigada por me linkar.
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