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- Adriana Cristina Razia )
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Arcaica sensação
de iminência de ser devorado
ao seguir por este vale de ostras
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ao varar
o arquipélago de sombras
carregado
de corpos ignotos
& lembranças de porões
-------------------------/ escuros /
-------------------------/ escusos /
pespontado
de infâncias
reclusas
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Vem-me a infância de quintal
vem-me a criança perdida
-------------------------sob as ramas de um chuchuzeiro
-------------------------& asas ambíguas
- bichos negros
-------------------------parados
-------------------------estanques
mas que repentinamente ---------------voavam pesado
em traço curto
-------------------------/ ainda mais negros /
sobre a cabeleira verde
que escalava os muros
de rusticidade infinda
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Essas dobras de hoje
regam aqueles sustos
-------------------------& tantos outros
como o bisturi & a máscara de clorofórmio
o medo do escuro
o medo do espelho
-------------------------em dias de chuva
dos safanões
& dos espíritos
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E havia ratos no porão
ratos, ratinhos
ratões
& uma folha seca a flutuar na tona
*
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2.
Agora, nesta hora perpétua
martelo o basalto
& inauguro a petrologia
do silêncio
*
; o acalanto e o horror
copulam na cambraia
que rouba a alegria das cores
*
&
debaixo da sombra cinza das lápides
um deus odioso se esfrega no mais amoroso dos demônios
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3.
Tento dialogar com a razão
mas meus ouvidos ainda estão surdos
como cegos latiam os bagres
noutros tempos
-------------------------de sobressalto
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*
Então vou puindo
ruindo-me
no centro da roedura
*
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4.
Caso interesse:
sim
houve quem estendesse-me as mãos
-------------------------sem muita ênfase
então escolhi as carolinas & a ambrosia
-------------------------& acabei lambuzado
-------------------------na baba fóssil
-------------------------desta vida de desmonte
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16 comentários:
seus poemas me deixam muda!!!Maravilhoso!!!
beijos
"*
Vem-me a infância de quintal
vem-me a criança perdida
-------------------------sob as ramas de um chuchuzeiro
repleto de percevejos com tíbias dilatadas
-------------------------& asas ambíguas"
Assis, como é gratificante encontrar mais um novo e brilhante poema seu.
Essa parte em destaque imprime uma força e uma delicadeza que emocionam especialmente.
Bravo e bom retorno. Beijo.
Assis,
Peregrinação nimbada pelo Arcaico.
E o olhar do botânico ("repórter da paisagem natural") bem aceso, no meio das sombras...
Abração,
Marcelo.
Na minha infância havia também um chuchuzeiro. E muitos ratos no porão. Foi longo o vôo até aqui...
Tua poesia sempre nos faz voar mais longe, Assis.
Bjo.
Querido Chico:
Compreendendo a dor das raízes para captar a verdade da flor...
Suas palavras pousam belamente em nossas almas; seus admiráveis poemas têm o condão de criar imagens poderosas, impressionantes!
Esses artefatos mágicos, filosóficos e estéticos são preciosos atributos que só quem conhece o idioma secreto da Deidade é capaz de conceber...
Obrigada pelo privilégio de interagir!
Abraços de luz, carinho e clorofila,
Adriana C. Razia
Oi Chico
Fiquei comovida com este seu poema e senti uma imensa e boba vontade de chorar, especialmente quando diz:
"houve quem estendesse-me as mãos sem muita ênfase"
Muito mais a dizer sobre ele (o poema), mas ele já é tão completo em si mesmo... Desnecessário.
bjs
Rossana
Prezado Chico,
Antes de tudo agradeço-lhe pela visita ao meu blog e pelo comentário. Estive aqui bioiando seu trabalho fértil e inspirado de poeta que sabe acariciar as palavras colocando cada uma no seu devido lugar. Assim dá prazer de ler, onde nada é forçado.
Grande abraço.
Vim te desejar um 2010 iluminado e de muita poesia. Um beijo!!
Nossa, Chico
falar do passado assim é pra poucos..."no meio das tíbias"...admiro demais sua poesia.
Feliz 2010!
Chico,
a lentidão meteórica desta São Paulo prostituta impede-me de participar amiúde de muitas vidas de desmonte... Falar da forma ou conteúdo seria querer ensinar o padre-nosso ao Papa.
Periférico inveterado, só cabe dizer que "tens pagada de negão", tás ligado?
Forte abraço.
Li Nos Campos do Norte e depois embarquei naquele Cruzeiro Marítimo ali no Poema Dia, pensando arrebate, mas, de repente, nada foi feito essa tua Assolação agridoce.
Lindo poema. Lindo.
Quem agradece sou eu, Chico. Quando te li, pensei desnecessário quase tudo quanto escrevi até aqui, desde a alfabetização.
Te aplaudo POETA.
Incrível como sempre me encontro em alguma poesia.
Adoro seus poemas e passo sempre por aqui para saber as novidades.
Parabéns menino dos sonhos.
Beijo grande e vamos poetar.
Suzana.
mis saludos desde Santiago de Chile, este poema y la cita de Adriana Cristian Razia, me ha hecho mucho sentido, ha sido gratificante y estimulante al mismo tiempo.
un abrazo,
Leo Lobos
nooossa... sem palavras para este poema.
Encontrei o link do seu blog em sua página no Verso&Prosa e vim te visitar, Chico! Suas poesias são belíssimas. Sua sensibilidade para com a natureza imprime força e encanto a sua arte, tanto à poesia como à pintura. Parabéns! Bjs e Parabéns!
Izabel Lisboa
http://blogdabellisboa.blogspot.com/
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