sexta-feira, 6 de abril de 2007

GERMINAÇÃO

Acrílico sobre duratex empermeabilizado
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Preda / Dor
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( A Paulo E. Vanzolini
zoólogo, mestre, amigo )
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Eu, anti-sol
Eu, muçurana pífia
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Por toda a idade das pedras
predei as víboras
que insinuavam-se nos piemontes
dos dias cor de piche
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Rastejei-me, sinuosa, negra como petróleo
pelo piche
pelas sombras dos urubus
empoleirados nas aroeiras de grafite
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e nunca fui imune à peçonha alguma
jamais me precavi das línguas bífidas
das pupilas verticais
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nunca me preveni das fossetas
, dos sibilos
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Eis que, pois, a escama quebradiça
o torcicolo em tantas vértebras
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Daí o rasgo
a vulva de arenito e estanho
onde me dobro qual um verme
na moela de um abutre
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História Natural
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( Para Francisca Carolina do Val
dos corredores de uma maternidade )
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Talvez doa

- os filhos que trazem
no útero
lhes sugam o sangue
como tênias

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Talvez rasgue

- larvas irrompem da pele
no que os filhos
lhes partem
a vulva

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Talvez queime

- as pulgas
embaladas no colo
exaurem a mãe
pelo lado de fora

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Quem sabe
me redimo:

há poesia
no mundo da carne
pois
nem tudo que fede
é podridão

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E os maridos
como reis de Cuba
sorriem um outro poema
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Um comentário:

Anônimo disse...

E os maridos
como reis de Cuba
sorriem um outro poema...
Que para eles não passa de um charuto cubano!!!
Gringa