A risonha passarinha
Dikako
chegou e partiu
como fazem as garças
mas deixou tudo de si:
*
na água
um sapo coaxará
na lua cheia
e sua pele fria
e verdoenga
de sapo
recordará
do calor de seus esses
jamais será a mesma
E nem a pedra
dormirão
Sou biólogo, prof. na UNESP- Câmpus de Botucatu, SP. Nas horas vagas, e desde que a cabeça ajude- coisa muito rara-, pinto quadros, escrevo poemas, fotografo e faço outras atividades terapêuticas para manter-me Zen. Este blog foi criado para os amigos verem o meu lado artístico. Tudo o que é postado aqui já foi registrado e tem direitos autorais. Estou fazendo o possível para camuflar digitações necessárias para diagramar as linhas nos poemas; nem sempre fica bom. Sejam bem-vindos.
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- A imagem que emergiu pra mim, a partir da leitura de "Na Borda da Ilha", livro de Assis de Mello, foi a de um pântano, de uma água extremamente densa, verde-escura, cheia de líquens e de vitórias-régias, mas de onde a vida brota o tempo todo. É uma poesia religiosa, mas no sentido de uma religião da natureza, panteísta, meio indígena, como dizia Allen Ginsberg: “Santo, santo, santo, tudo é santo”. Nesta ilha, a natureza é mística e a mística é natural. Não há uma metafísica, mas há uma ontologia. Heideggeriano, o transcendente não está em outro lugar, como um céu, ou um mundo das ideias, por exemplo. O transcendente está no interior, na profundeza das próprias coisas.
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No texto de apresentação, Willer relaciona a escrita de Assis de Mello com a de vários outros autores, mas não citou a correspondência que, para mim, pareceu a mais urgente: Walt Whitman. É como se o homem, ainda que mortal e consciente da morte, estivesse bem encaixado e bem relacionado com a morte, porque, como dizem os versos barrocos: "O todo sem a parte não é todo, a parte sem o todo não é parte." Os versos de Whitman dizem o seguinte:
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Que fim levaram os velhos e os jovens?
Que fim levaram as mulheres e as crianças?
Todos estão bem e vivos em algum lugar;
O menor broto mostra que a morte na verdade não existe,
E se um dia existiu, seguiu tocando a vida, sem ficar à espera para interrompê-la,
E deixou de ser assim que a vida apareceu.
Tudo segue e segue sem parar... nada se colapsa,
E morrer é diferente do que se imaginava, bem mais afortunado.
Alguém aí achou que foi sorte ter nascido?
Já me adianto e digo a ela ou ele que também há sorte em morrer, e disso sei bem.
Cruzo a morte com o moribundo e cruzo a vida com o recém-nascido... não estou contido entre chapéu e botas.
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É ler Assis de Mello e encontrar imagens de força e pulsação semelhantes.
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Outra conexão que pode ser estabelecida é com Nietzsche e o seu Zarathustra, o homem natural.
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Assis de Mello é biólogo e trouxe muito da biologia para os seus poemas. Uma amálgama perfeita, de onde emerge uma poética nova, diferente, telúrica. Vale a pena conferir.
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- (DANIEL LOPES- Escritor, autor dos livros "É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela que dança" e "Pianista Boxeador. É colunista do site Página Cultural.
2 comentários:
bjo bjo bjo muitos bjos pra ti.
bonito!
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