domingo, 2 de março de 2008

EXCLUSÃO

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{ Apartação }
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( Para Sami Michael )
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As molduras / as peias /
------------/ as cercas /
------------/ os muros /
as linhas demarcadoras
------------/ os corvos
------------de Poe /
abrem abismos no ar / e / nas pedras
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/ cortam rajadas no peito / )
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/ O medo (se) desnovela
: amarga serpente /
/ : baço aço /
/ : peçonha estocada
em ampolas
de silêncio e guarra /
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[ Pobres olhos de Gaza ! ]
[ Pobres mãos de crianças apartadas dos pais ! ]
[ Pobres joelhos de velhos refugados nos asilos ! ]
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/ O arpão da vendeta
rasou
a
razão
dos homens /
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{ Num reino de pua / as fadas retalham
qualquer doçura
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/ não há rebrota /
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e as borboletas picam }
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Teopneustia
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( Inspirado pelo Autêntico
a respeito de um certo deus
inventado pelos homens )
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( Para Ivo Barroso )
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Boa dose de agonia
permanece na banheira
após o banho:
pêlos soltos
um colarinho de espuma
resquícios de sabonete
escamações
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Acontece que a banheira
é uma ordem de pia batismal
e todo batismo
tem seu lado de tragédia
e todo banho
é rito de passagem
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Um crédulo
mas malicioso espírito
força um anjo a engolir um deus
ao redor da tina
mas não o Deus branco
das pombas
e
sim
um temerário deus
das cismas
dos assombros
das aflições
a quem tudo se implore
no fluir da vida
e que transmuta o vento
em barras de clausura
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Pouco sabe
sobre o amor
esse deus das pias:
antepara a mulher do próximo
e não se define
sobre a poesia da mucosa
lambida
pelo amoroso jato
nos confins das madrugadas
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E quanto se sofreu
sob seu cajado !
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Morreres e nasceres
residem nas banheiras
nos rios, em todas as águas
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É na água que a jubilosa
noiva
beatifica o hímen
e os seios
antes do abate
da pequena ave engaiolada
no batismo
e o nascimento de uma garça
majestosa
cuja sorte
é comer sapos
e viver no choco
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2 comentários:

Alice disse...

Lindo lindo lindo lindo lindo lindo !! duramente lindo, tristemente lindo, separadamente lindo!

beijos pro chapéu !

Hercília Fernandes disse...

Boa tarde, Assis!

Adorei seus textos, estou lendo-os a "vagar", com todas as ambivalências que o termo comporta!...

Amei este poema, sobretudo o jogo entre os signos e sentidos. Você manipula as palavras e as coisas com a maestria de um artesão - aquele que vai colando as figurinhas no texto...

Admirável a sua poética: paisagística e lúdica; e, diria que, ecologicamente pedagógica, no bom sentido da expressão!

Visitarei com freqüência esse lugar de encantos mil.

Abraços, HF.