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Disjunção
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Às vezes começo a lembrar
daquilo que sugere
uma certa tarde nas dunas
de abóbadas alaranjadas
num fim de tarde
------------------com pombos
------------------e folhas arrastadas
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de manhãs de sol com crianças
------------------lambuzadas de frutas
e de uns estalidos de velhos que mascam a língua
sob o chapéu
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De repente tudo pára
:
uma senhora
( um gato )
atravessa
o pátio
sem qualquer cerimônia
e arremessa minhas visões
para nenhures
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para além
-----------de
-----------um
-----------poço
-----------cavado
-----------jamais
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Apnéia
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A tarde acorrentada
a um cano de torneira
e a noite mouca
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À manhã
nem me ouso referir
: a claridade ofusca
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Uma dama sentada à sombra
embala o vento que me foi roubado
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O Louco
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... e vagava
pela medula da própria alma
exilado
corporificado em água e polpa
como as entranhas de um coco
que se encarceram
na fibrosa intransigência
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Nos bolsos
pensamentos ferviam-lhe
como besouros no guano
*
idéias vertiam
dos canais lacrimais pródigos em vida
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e, se no escuro
tinha consciência
das próprias pústulas
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no claro
era branco como giz
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Talvez soubesse das coisas
*
Talvez guardasse a chave
das grandes verdades
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pois enquanto muitos se mataram
na larica de viver
---------------ele banqueteou
em seu casulo de fibra
sem ter que se morrer
*
e nos dias úteis da semana
quando as pulgas se vestiam de gala
e entoavam recitais com pompa de barão
ele dançava [ mas não ouvia ]
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E ria
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13 comentários:
Olá Chico.
Sua poesia me encanta pela mensagem e originalidade..
Beijos.
Chico, o título para a foto do pipoqueiro ficou muito bacana. E parabéns pelos poemas também.
Belissimo blog: poesias e imagens. Beijos.
Belissimo blog: poesias e imagens. Beijos.
Lindas as poesias.
Tua escrita é fabulosa.
Aprecio muito e muito as tuas poesias.
Teu blog é belo
Beijos,
Cris
Qualquer semelhança com o velho Chico que percorre as Gerais não é coincidência: palavras que matam a sede, que levam a um mar de beleza. Belo blog, poesias idem. Abraços.
Gostei mto das 3... mas O LOUCO ... mto mesmo
No claro do giz branco... com que desenhava o riso...
Chave invisível para abrir as portas de tantas atitudes certinhas mas + parecem loucura...
beijinhos das nuvens
Chico,
que poemas mais lindos;impossível adjetivar...não tenho palavra alguma que possa descrever o meu encantamento...
estava com saudades de teus escritos caríssimo,
grande abraço!
Olá Assis de Mello,
fiquei encantada com os seus versos: quanta plasticidade, beleza, originalidade...
adorei!!!
Deixei também um comentário lá no blog da HF, e visitarei mais vezes esse manancial de múltiplas linguagens que formam o "Coisas do Chico".
Abraços,
Maria Clara.
Obrigada pela visita e pelas palavras deixadas no meu "Ortografia". Visitarei este seu espaço.
Um abraço.
Maravilhosos, os três poemas.
Belíssimas palavras.
Teus poemas são fantásticos.
Saudades em ve-lo em meu blog, quando puderes vá por lá
Beijos,
Cris
Chico,
pra comentar, a altura, tem que ter leitura demorada, leitura dedicada.
Gostar de poemas é uma coisa.
Ler poemas e querer copiá-los, querer citá-los, no meu caso, é diferente: é porque quero um grifo sobre o que leio, grifo como marca da minha passagem, da minha insistência nas palavras do outro. Neste caso, tua poesia me pede grifos. E retornos.
Beijos
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