quarta-feira, 18 de março de 2009

ASSOMBROS

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Qahoba Haa: Casa Cadente
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( Aos poetas Sérgio Medeiros-
tradutor do Popol Vuh para o português-
& Benny Franklin )
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I
Imergi meu corpo
num tonel de heranças
na quilha de uma hora ressonante
----------------------oca hora
do tabernáculo de um molusco
devorador de areia e de vidro
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II
O tempo passa para todos
e abre sulcos
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A vida inteira
imergi minhas amplidões despudoradas
nas fendas de mulheres transparentemente mornas
com dentes nacarados
----------------------que

----------------------via-de-regra
regavam seus quintais com aquavita
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Cheirei de todas as rosas
Provei das gorgônias mais vis
----------------------e agora estou aqui
----------------------neste barranco, velho
a decifrar enigmas
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III
Tantos assombros, mais um:
um mosquito esmagado
nas páginas do Popol Vuh:

bem no ponto onde Hun Ah Pu
e X Balam Ke, os gêmeos Caçador
e Jaguar Veado
puseram os mosquitos a seguir
pela estrada negra
para picar pessoas e os bonecos
de pau
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IV
R Atit Qih / R Atit Zak
( avó do dia / avó da luz )
Bendita demência escarlate
Minhas avós jamais suspeitaram de seus próprios
conselhos
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11 comentários:

Adriana Godoy disse...

Em cada poema, você se supera. Essa analogia entre os bichos e percepções humanas tratada poeticamente é um trabalho minucioso de construção de versos, de escolha de palavras exatas no lugar certo. Chico, mais um que arrebata.
O último verso:"Minhas avós jamais suspeitaram de seus próprios
conselhos" fantástico. Beijo.

Cris Animal disse...

Obrigada pela visita e mais ainda por poder ler a poesia ao Lubby. Mais que isso: uma homenagem ao um amigo que é de sempre e para sempre. Um amigo que veio e que jamais irá embora, pq possui o poder de marcar definitivamente o coração apenas com boas lembranças. Rariadade entre os humanos....
Infeliz daqueles que não acerditam nesse amor e nesse compartilhar de vida.
Felizes os que vivem e dividem com os ANIMAIS IRRACIONAIS, sim, ( ainda bem irracionais....se fossem racionais, seriam humanos e deixariam de ser o que são:perfeitos) a alegria de uma vida.
Acredito nessa presença que não vai, nesse amor que embora longe fisicamente é presente para sempre, pq eu vivo isso. Loucura para alguns. Loucura para aqueles que nunca tiveram o privilégio de amar um animal e ser amado por eles.
AMEI seu blog.
Linkando vc
beijo
..............Cris Animal

Ava disse...

Vim conhecer... Poemas lindo e instigantes!
Força a ler e reler...

"O tempo passa para todos
e abre sulcos"

Esses sulcos é que mata a gente...rs
Aqueles que ficam sangrando... Ah, esses são os piores!



Beijo avassalador!

Adriana Riess Karnal disse...

um poema cheio de palavras "esotéricas", gosto de tuas metáforas... e as avós aluniadas.

Unknown disse...

Maravilhoso!!!!
Poema noir de primeiríssima qualidade. Tocou em mim:"Bendita demência escarlate
Minhas avós jamais suspeitaram de seus próprios
conselhos".

Parabéns, amigo!!!

Abraços

Mirze

Unknown disse...

Prezado Chico:Esse é um poema desdobrável, multiplicável, matriuskas saindo umas das outras:memórias, histórias, tudo em refinadas filagranas que , no entanto, têm a maleabilidade da prata,a ductibilidade do ouro, o peso do aço, o brilho do rubi.
Mas a carne é flor, e o aroma se expande, mesmo virtualmente.
Cordiais e sinceros cumprimentos.
Obrigada por linkar meu site EROTISSIMA(http://erotissima.blogspot.com)

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Benny Franklin disse...

Salve, Assis - meu bom poeta!

Teus escritos - de prima - são ânimos de vida de que preciso para amar a poesia.

Tê-lo entre os bons, encabeçando os meus favoritos, e, tendo a possibilidade de te acessar a qualquer momento, explica a canina admiração que eu nutro por você.

Obrigado pela dedicação!

Para sempre: amigos!

nina rizzi disse...

nossa... tou diger-indo. e tá uma delícia :)

d'Angelo Rodrigues disse...

Suas avós se orgulhariam de um neto assim. Bendita seja a sua demência escarlate, meu grande Chico!

Gabriela Rocha Martins disse...

descobri.te após uma visita tua e rendo.me às palavras que tecem poemas

onde os avós somos nós e nós os meninos avós que matam os mosquitos ,porque estes nos picam ... espectacular metáfora!


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um beijo

BAR DO BARDO disse...

poema bastante másculo.

há de ser lido com temor.