terça-feira, 16 de março de 2010

CORROSÃO

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Burning Ash
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( Ao poeta José Geraldo Neres )
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1.
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árvores sem copa
répteis / couro de gato
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descompasso nas horas
que fogem das lampreias
---------------num fluir
---------------longínquo
---------------& acinzentado
:
mandíbula na areia
escalpo na mão
olheiras transfixadas na planura cárstica
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derme / dolomita
berne
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---------------
hamadríades
---------------mortas
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pedregulho
---------------borra
silêncio / barro
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napéias
sepultadas no colúvio
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---------------oceânides
---------------de
---------------sal
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2.
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qualquer iluminação escondida
sob a densa manta
---------------de xisto
---------------pretérito
na via de violetas glabras
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- violetas
com folhas de zircão
---------------& pétalas
---------------de osso de siba -
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jugular sedada
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carótida partida
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3.
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passou fácil
---------------pelo túnel do parto
---------------a tragédia
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a mãe / esvaziada / branca
---------------busca alento
---------------na parede do derradeiro poço
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---------------: estende seus olhos
---------------no deserto
*
: estende seus olhos de mãe
---------------sobre o deserto
pra ver a filha mastigar distância
*
& logo penderá seu corpo para trás
*
---------------
:
---------------ossos
---------------sobre a pilha
---------------de ossos
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4.
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os xamãs acocorados
previram o desfecho
na fumaça
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o ovo branco interpelado
na sibéria de alvaiade
---------------é
---------------
nódoa de sol
---------------na sibéria calcinada
---------------de alvaiade
*
inda se ouve
o eco da pedrada
---------------no pássaro ---------------em
-----------------------------------------voo
*
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13 comentários:

Caio Martins disse...

Chico, é coisa de quem já viu passarinho apedrado e resto de queimada... essa coisa dá uns instintos ferozes... claro que depois poremos a culpa em deus ou no diabo...

Forte abraço.

Adriana Godoy disse...

Chico, com esse vocabulário tão rico , com esses versos tão expressivos, eu babo...cada poema desse é um deslumbre, um delírio. Aplausos. beijo.

josé geraldo neres disse...

meu amigo chico, o que dizer desse poema? me sinto honrado com a dedicatória. que voltar outras vezes de degustar novamente suas palavras. obrigado e um grande abraço poético desse amigo.

Andréia Carvalho Gavita disse...

Chico, pois eu me encantei aqui. Biologia é uma de minhas paixões, junto com poesia. E uma voz que une ambas, como a tua, é coisa de se tratar como uma dádiva. Taxidermista que fui (ainda sou no coração), faço as leituras daqui como um agradável exercício de reconstrução de esqueleto (me lembram catedrais)... vou, a cada vértebra de vocábulo lido, visualizando os vitrais. E tem cor. Me sinto em casa. Grande abraço.

Raquel Fagundes disse...
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Raquel Fagundes disse...

Fantástico!
Vai dando uma angústia na gente... Muito forte. Delicadeza e pungência simultâneas.
Dá para ver, ouvir e sentir.
Como disse a Adriana: Aplausos!
Beijos

Andréia Carvalho Gavita disse...

me passou um xerox interno. acertou em tudo. camaleões se entendem.
* eu te agradeço.

Alma Mateos Taborda disse...

Bello , profundo e intenso poema. Me encantó Felicitaciones! Un abrazo

Felicidade Clandestina disse...

Pois seja sempre bem-vindo no Reino das Palavras meu querido.
Obrigada pela amável visita :)


eu e Márcia somos conhecidas de blog.
mulher fantástica!!

assim como tudo que escreve.
gosto muito de suas palavras :)


e estou adorando conhecer o seu trabalho.
Retornarei aqui depois para ler tudo com calma =]


Um beijo e uma boa noite!

Fada do Mar Suave disse...

Chico

Você levou luz para meu blog e agora só brilho. Aceito todas sugestões, mas na galeria está faltando mesmo é você. E este seu espaço poético é maravilhoso e fico babando a cada poesia.
Adorei sua visita e o quero sempre pertinho. Beijossss

Ianê Mello disse...

Gostaria de convidá-lo a passar no meu blog Diálogos Poéticos que tem um selinho lá pra você.
Um abraço.

Anônimo disse...

Eita meino, essa confusão de sentido e palavras me tocou...nasceste para o ofício das palavras, sabes penetrá-las em silêncio e em silêncio, através dessa telinha, expandir-te pelo mundo...Voltarei para ouvir teu doce sussurrar...belo poemarte.Belo.Até breve.

nydia bonetti disse...

A vida é um eterno fluir... Toda pedrada - ainda que distante - também nos atinge. Sempre tão bom te ler, chico. abraço!