*
*
*
*
As águas como mãe
o sorriso
como ilha
Quantos náufragos
içaram as mãos
na sede de alcançar
essa terra
resguardada por peixes
e gorgônias ?
E o que dizer das aves
das araras
juruviaras
a dançar
por sua morna
hidrografia ?
Deusa na espuma
: ei-la
a depurar a enseada
com olhos negros
da terra de Damasco
trazendo
a mais rosada
das flores de ninféia
nos cabelos
prescrevendo
eras
de mistério e enlevação
*
No escuro do sem-fim
meus olhos
criam cometas
( Para Lyselotte A.,
se foi
mínimo
deslize
Lyse
e minha viela
violou-se
em chispas:
vagarosos búzios
a se arrastar
nos areais
de cambraia
e pele
texturas
do interior
das ostras
holotúrias túrgidas
Oh radiosa
Freya
filha de Njord
mulher de Od
e minha:
converte-me
em
falcão
com esse teu amuleto
de penas
Abandonaste a rocha
sereia do porto
de København -----------------------------------------Copenhague
para roçar-me
com tuas tranças
de sol
teus olhos de casca de mar
tua tez de pérola
juvenil
uma terrível
impetuos
( a )
idade
Viking
e um silêncio
benigno
quase penumbra
( - indecifrável
carta náutica -
puro mistério )
: eis teu belicoso
instrumental
de tortura
sommerfugl -------------------------------------------borboleta
E ainda trouxeste
pra minha gruta
de rei eremita
o aconchego
de uma casinha
verde
numa borda qualquer
da Jutlândia
com esse cheiro
de pão
exalando do forno
- grahamsbrød - ---------------------------------------- pão de grãos integrais -
e esse livro
repleto de grunhidos
sobre o criado-mudo:
drøm behageligt -----------------------------------------bons sonhos
hemmelighedsfuld ---------------------------------------cheios de mistério
måne // stjerne -----------------------------------------lua // estrela
måge // bjerg -------------------------------------------gaivota // montanha
duftende // markblomst --------------------------------cheirosa // flor silvestre
jomfruelig pige ------------------------------------------virginal menina
guldførende ---------------------------------------------que contém ouro
ildfuldhed -----------------------------------------------ardor
elsker ---------------------------------------------------amante
kødets lyst ----------------------------------------------volúpia da carne
havgudinde ---------------------------------------------deusa do mar
udstyrsstykke ------------------------------------------espetacular
ildsprudende bjerg --------------------------------------vulcão
frugtbar jord --------------------------------------------solo fértil
smøring -------------------------------------------------lubrificação
det er regnvejr ------------------------------------------está chovendo
flod -----------------------------------------------------rio
skrige ---------------------------------------------------grito
sædvæske ----------------------------------------------sêmen
stilhed --------------------------------------------------silêncio
fylde ---------------------------------------------------plenitude
havskum ----------------------------------------------espuma do mar
Vou te dizer duas coisas
radiante Lyse:
1- Ele estava errado
nunca houve nada de podre
no Reino da Dinamarca
completamente
maluco
*
*
9 comentários:
Belíssimo!
Gosto muito deste cheiro de mar, destes brilhos de pérolas, deste roçar de asas, do sabor do pão feito de grãos, da potência da paixão!...
Parece-me que cada poema (longo) teu poderia ser repartido em vários pedaços-poemas (partículas) igualmente saborosos e cintilantes...
Abraço azul-celeste-marinho.
Apreciei todos os escritos, especialmente o primeiro poema, "Femina", que soa e ressoa leve, feito asa ou espuma, pingos, respingos de estrelas...
Te convido a ler o meu novo, que postei ontem, lá no blog.
Beijos astrais.
"...No escuro do sem-fim
meus olhos
criam cometas..."
Perfeitas palavras estreladas!
*
*
*
Um abraço alado num fim de tarde frio, poeta!
Voltei para saborear Summerfugl...
Belíssimo teu tecido poético, tessitura de linhas de seda e cetim cintilantes... Beijo meu, poeta Assis.
"eis teu" (vosso) ... ?
Oi Anônimo,
É "eis teu" mesmo. O poema todo está na segunda pessoa do singular.
...No escuro do sem-fim
meus olhos
criam cometas...
Chico...........indizível. Perfeito todo o poema Femina.
Você é o há! ;)
Teu Quixote me pluraliza.
JIVM
Muito, muito, muito lindO! Um bj!
Postar um comentário