sábado, 29 de dezembro de 2007

SUTILEZA

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Dois Poemas de Frio e de Dor
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( Para Antonio Carlos Secchin )
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19
Remexo a gema
da noite
antes do tédio
da clara manhã
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: têmpera fosca
de antimônio e caulim

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- quantos fantasmas
reviram nos caleidoscópios
e se desmontam
pra depois se recoserem
numa falange de proteus (?!)
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Hora de hulha
povoada de folhas
e sarridos
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Hora de unha
motinação
e esgarçadura

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Explode a laca
pra fora de mim
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e é assim
que me aplaino:
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cochonilha atada
à raiz
da geada
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28
Marés de sizígia
chumbo de águas-vivas
.............................e de polvos
Chumbo de tentáculos
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A caravela portuguesa
não se presta à poesia
- é eminência de ardume -
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Quisera estrondar-me
como a jubarte
que se atreve ao ar
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esgueirar-me
..............................- angüila -
nas fendas do coral
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arrancar-me
..............................feito um raio
de peixe prata
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E não ensimesmar-me
como um gastrópodo
na concha
..............................e sem o mar
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O teredo da morte está na madeira do leito, está na quilha do navio. Mas o amor golpeia mais forte nos lambris do sonho. E eu ouço a noite rasgar-se no talha-mar de uma proa*
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*- Parágrafo da parte 5.2 da Seção IX (Estreitos São os Barcos) do livro “Estrofe”, de Saint-John Perse. In: Amers- Marcas Marinhas, tradução de Bruno Palma, Ateliê Editorial, Cotia- SP (2003).
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Um comentário:

Anônimo disse...

E eu que só falo dos gatos, invejo-lhe o conhecimento da bicharada e a musicalaidade dos sons...
Obrigada!