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Poema da Invernada
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Tempo I- Banimento
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Um sapo no mar
..........................se recorda
do braço da boneca
no chão da favela
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dos loiros cachinhos de nylon
vedando frestas
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( Seu corpo murcha
presumindo a morte
Sapo e sal nunca se dão )
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..........................A mesma lembrança
que atirou à escuridão do sótão
o palhaço atímico
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..........................: denúncia
de um mundo em rasgadura
de um inocente esquartejar
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Tempo II- Proscrição
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O palhaço
em seu próprio Gulag:
pequeno sótão
em algum ponto
entre Norilsk, Kolima
e
..........................Vorkuta
onde as mãos têm a casca
do lariço siberiano
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Sua expiração quadricula
a tosse comprime o gelo
..........................nas pleuras
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há
muito
tempo
acinzentou-se
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Sequer sobrou
..........................o quebrar das pedras
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E
a roupa larga
se tornou fuligem
a vedar-lhe os poros
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e
venta
e
chove
no cubo
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e
seu nariz, redundante
tornou-se passa
..........................de ameixa preta
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e embora haja um certo azul
..........................lá fora
nem a dessecada alma do sapo
..........................nem a dessecada alma do sapo
..........................que morreu no mar
o visita
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Tempo III- Impassibilidade
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Meia-noite e trinta e sete
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: o espectro anuro
espia pela fresta mas não entra
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: no sótão
não há facas
vidros, cordas
comprimidos
nada que risque chama
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tampouco há
paredes duras
degraus, janelas
eletricidade
lamparina a óleo
fogão a gás
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( o chão é mole )
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tudo forrado
por uma espuma
que não se esgarça
e resiste às unhas
aos dentes
às gengivas
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a cama é d`um limbo
que não escorrega
e ali
o palhaço
dorme ( ? )
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O fantasma o espia
com seu holocêntrico
..........................olho
de fantasma
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e o braço da boneca
bate os dedos na porta
..........................mas ninguém
respeitável público
..........................ninguém por perto
..........................ouve nada
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4 comentários:
Grata pela visita, caríssimo Assis! Fazia tempo que não davas o ar de tua graça, é sempre bom recolher tuas palavras amigas, gentis e inspiradas. Venho retribuir o abraço , e leio teus novos escritos... após o que me permito pensar e desejar: que a alma, a aura, a mágica desta boneca perdure... apesar dos percalços, dos sais e sapos, das unhas e dentes, das bruxas e fantasmas!... (pois que no sótão também podemos encontrar baús de tesouros e pérolas, memórias e histórias!).
Olá Assis,
ok, então estamos linkados! Muitas coisas boas aqui, e ainda estou só começando meu passeio... obrigada pela visita.
Ol� Assis,
Agrade�o muito seu coment�rio em meu blog.
Como disse minha amiga capixaba J�, penso em passar o fim de semana lendo seus poemas.
Obrigado por me visitar.
Vou tamb�m colocar um link em meu blog.
Abra�os,
Jorge Elias
Ma ra vi lho sa!
Amei, estou amando tuas pinturas,
poeta!
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