quinta-feira, 15 de maio de 2008

LEMBRANÇAS

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No Recolher dos Pássaros
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Uma alma exposta
---------------sem velames
fino hímen
num íntimo crepúsculo


Falo de lembranças
Falo
de teu olhar melancólico
---------------mas impelido por desejos
e de uma fina saia de fazenda indiana
que te cedia o vento às coxas


É dos lábios em meus dentes
---------------que falo
de teus hálitos, sabores
e do calor
---------------com que tatuavas meu peito
---------------no recolher dos pássaros


Nunca me esqueci daquela sensação de vagas
---------------com seus bruscos faleceres
---------------seguidos de um súbito parir
---------------em nosso respirar
ou daquilo que fugia
quando o fogo remexia
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Falo das línguas, das bocas
e de cada um dos gemidos
---------------que não ousamos conter
no turbilhão de santuários
que nos coseram no tempo


Falo de tua alma exposta, explícita
---------------e sem velames
de uma orquídea a prenunciar a noite
de tua maneira de se anunciar
---------------como a mustela no cio
e de teus olhos de corça
---------------e de minha rigidez de árvore
---------------sem gretas na cortiça
*
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Um comentário:

Anônimo disse...

Francisco, desculpe minha demora.
Porém valeu a pena. Fiz uma viagem
longa com a companhia dos seus
poemas.
Poeta, o jogo com a palavra 'falo'
está extraordinário.
Obrigada por tanta beleza em uma
preguiçosa tarde.
Beijos e início de semana gostoso
e poético.